As aves sofrem?

Muitas pessoas se perguntam se as aves sentem dor ou não, pois elas não mostram os sinais de dor que esperamos. Neste artigo, vamos explicar por que isso acontece.
As aves sofrem?
Érica Terrón González

Escrito e verificado por a veterinária Érica Terrón González.

Última atualização: 21 dezembro, 2022

Historicamente, acreditava-se que as aves não tinham a capacidade de sentir dor, pois não eram capazes de demonstrá-la. Atualmente, sabe-se que qualquer ser com um sistema nervoso central desenvolvido pode sentir dor, ainda que isso não seja demonstrado de uma maneira óbvia. Portanto, as aves sofrem da mesma forma que qualquer outro animal.

Por que as aves sofrem?

A nocicepção – percepção da dor – funciona de forma semelhante em aves e em mamíferos. Estudos mostram que aquilo que se conhece como Nidopallium – algo semelhante ao nosso córtex pré-frontal – é a estrutura cerebral associada ao centro da dor nas aves. Diante de qualquer estímulo desagradável, essa área do tecido cerebral é ativada e a dor surge.

As aves sofrem
Fonte: https://featheredape.com/

Tipos de dor

No caso das aves, os sinais de dor podem refletir:

  • Dor aguda: como o comportamento de fuga ou defesa, o aumento da pressão arterial, as pulsações, as vocalizações – o que interpretamos como gritos –, a respiração rápida, etc.
  • Dor crônica: perda de apetite, letargia, posturas atípicas e, acima de tudo, ausência de limpeza da plumagem.

Medicamentos analgésicos e anestésicos

A analgesia é a eliminação da dor, enquanto a anestesia é a eliminação de toda a sensibilidade. Ambas são utilizadas para qualquer procedimento que gere sofrimento, por questões éticas.

Entretanto, sua importância não se resume a atuar como uma ferramenta contra a dor. Ambas também são usadas ​​contra o estresse, que é a causa de patologias e, às vezes, de morte. Ainda mais no caso de uma ave selvagem que não está acostumada ao contato humano.

Procedimentos como radiografias, exames oftalmológicos ou a simples manipulação se mostraram estressantes. Portanto, o uso de anestesia durante o exame da ave pode ajudar a reduzir o estresse e as suas consequências.

Como proceder na clínica

Sempre que um medicamento analgésico ou anestésico for ser usado, é preciso primeiramente garantir que o estado corporal do animal seja adequado. O próximo passo será procurar a causa da dor e tentar eliminá-la.

Uma vez que todos os dados tenham sido obtidos durante a inspeção do animal, será escolhida a combinação adequada de medicamentos, uma vez que nem todas as aves respondem da mesma forma aos medicamentos.

Particularidades das aves ao serem anestesiadas

Existem diferenças importantes entre aves e mamíferos que devem ser levadas em consideração, tais como: 

  • A traqueia das aves é formada por anéis fechados, o que limita sua capacidade de expansão. Por esse motivo, a anestesia endotraqueal não é a mais recomendada, pois pode causar sangramento ou fratura dos anéis traqueais.
  • Ela não possuem epiglote, o que facilita aspirações indesejadas ao remover o tubo. Apesar de tudo, a anestesia endotraqueal ainda é usada em grande parte das cirurgias sob anestesia geral.
  • Em alguns centros veterinárioshá a preferência pelo uso de máscaras de anestesia inalatória, adaptadas ao tamanho da ave. Embora o aproveitamento dos gases anestésicos não seja tão eficaz e ocorram perdas, são evitados os problemas decorrentes da intubação.
  • Os pulmões das aves estão conectados a sacos aéreos, distribuídos ao longo de sua cavidade celômica.
As aves sofrem
Fonte: https://aves.paradais-sphynx.com/
  • Alguns sacos se conectam com os ossos conhecidos como pneumáticos: úmero, fêmur, etc. Isso é algo que deve ser levado em consideração durante as cirurgias.

A fratura de um osso pneumático envolve dano ao epitélio respiratório e a possibilidade da perda de parte dos gases anestésicos.

Fases da anestesia e sinais mostrados pela ave

O monitoramento da anestesia deve ser ainda mais rigoroso, se possível, em uma ave do que em um mamífero. Para isso, é útil saber o seguinte:

  • Indução: todos os reflexos devem estar presentes. A ave ficará letárgica e a sua respiração vai variar, de acordo com o seu nível de agitação antes da cirurgia. Aos poucos, ela vai deixar de oferecer resistência.
  • Fase de anestesia leve: os reflexos são atenuados, não há movimento voluntário e a ave não responde mais às mudanças na postura. No entanto, ela pode mostrar dor caso penas sejam arrancadas. Respirações rápidas, porém profundas. É o estado anestésico preferível para procedimentos menores e indolores.
  • Anestesia média: os reflexos praticamente desaparecem e o relaxamento muscular é quase absoluto. Respirações lentas e regulares. É o estado preferível para um procedimento cirúrgico.
  • Anestesia profunda: sem reflexos. A respiração é superficial, às vezes intermitente. As pupilas se dilatam. Só é recomendável para procedimentos de emergência e extremamente graves.

Assim que a anestesia terminar, a ave deve ser monitorada até que os seus reflexos e sinais vitais voltem ao normal. A analgesia deve ser mantida até que os sinais de dor desapareçam porque as aves sofrem e, agora, já sabemos disso.


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