Calau-de-capacete, um pássaro com um bico mais caro que o marfim

Devido a sua escassez e à caça predatória, razão pela qual foram aniquilados 60.000 exemplares do calau-de-capacete, essa espécie se encontra em perigo crítico de extinção.
Calau-de-capacete, um pássaro com um bico mais caro que o marfim

Última atualização: 11 janeiro, 2020

O calau-de-capacete, uma vultuosa e excêntrica ave oriunda da Ásia, não é muito conhecido, mas está ameaçado pela caça predatória de seu precioso bico de queratina, cujo valor pode chegar a triplicar o do marfim do elefante. O quilo desse precioso produto pode chegar a custar o equivalente a 27 mil reais.

Habitat e características 

Localizado nas florestas de folhas perenes e semiperenes da Indonésia, Brunei, Malásia, Myanmar e Tailândia, o calau-de-capacete (Rhinoplax vigil) é um símbolo importante na cultura asiática.

Ele é concebido pelas tribos aborígenes de certas ilhas como uma das criaturas que recebem os falecidos no além-túmulo. Além disso, é um dos pássaros representativos da província indonésia de Kalimantan Oriental.

O seu crânio, muito desproporcional em relação ao seu corpo, representa em torno de 11% do peso total da ave. A parte frontal, mais saliente que o normal, proporciona a aparência característica peculiar dessa espécie.

O calau-de-capacete

As mãos especialistas de um artesão são capazes de obter uma pequena peça de marfim de cor âmbar a partir de seu crânio, razão pela qual o seu nome indonésio, enggang gaging, pode ser traduzido como “calau de marfim”.

Os machos utilizam o seu crânio proeminente de queratina para lutar com outros machos durante a temporada de acasalamento, e para extrair insetos dos troncos das árvores em decomposição.

A sua dieta é composta, além disso, por frutas e nozes, o que faz deles os melhores dispersadores de sementes das florestas asiáticas. Por isso, a sua hipotética extinção poderia ser fatal para todo o ecossistema ao seu redor.

Presente e futuro do calau-de-capacete, uma espécie à beira da extinção

O comércio internacional envolvendo o bico dessa espécie remonta ao ano de 1371, quando o marfim dessa ave foi apresentado como um presente na corte da dinastia Ming.

Desde então, o marfim que é obtido a partir do crânio do calau-de-capacete foi usado por colecionadores de todo o mundo para produzir inúmeros objetos decorativos.

A escassez dessa ave, junto à caça predatória e ao preço exorbitante oferecido no mercado por esse precioso animal, fizeram com que na última década tenham sido mortos 6.000 exemplares por ano. Atualmente, a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN afirma que o calau está “em perigo crítico”.

Calau-de-capacete voando

O governo da Indonésia apresentou em 2016 uma proposta para combater a caça e o comércio ilegal dessa espécie, ainda que essas não sejam as únicas ameaças enfrentadas: as práticas agressivas – e, muitas vezes, ilegais – de agricultura intensiva estão dizimando pouco a pouco o seu habitat natural.

O futuro dessa espécie depende, em grande medida, dos esforços conduzidos pelos governos para acabar com o comércio ilegal. Um dos acordos internacionais sobre os quais mais se fala é a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES, na sua sigla em inglês).

A função principal dessa convenção é a de zelar para que o comércio internacional de espécies de animais e plantas silvestres não represente uma ameaça para a sua sobrevivência. O calau-de-capacete figura na sua lista de espécies protegidas desde 1975.

De fato, é graças aos registros mantidos sobre a caça predatória dessa ave que os cientistas Claire Beastall e Chris R. Shepherd, da Universidade de Cambridge, puderam realizar um estudo sobre o comércio ilegal do calau-de-capacete.


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