Poluição sonora: o inimigo dos pássaros

Para os pássaros que vivem na cidade, a poluição sonora pode causar mais do que perda auditiva. De acordo com novos estudos, acredita-se que esse aspecto pode encurtar a vida desses animais.
Poluição sonora: o inimigo dos pássaros
Luz Eduviges Thomas-Romero

Escrito e verificado por a bioquímica Luz Eduviges Thomas-Romero.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A poluição sonora é uma realidade em todas as cidades em rápido crescimento e expansão. Sem dúvida, a cada novo projeto de planejamento urbano surge uma nova dor de cabeça, talvez principalmente para os pássaros.

O planejamento urbano e a industrialização não mudam apenas a paisagem e as fontes de alimento, afetando também a nidificação de pássaros e muitos outros parâmetros vitais.

A dificuldade de estudar a poluição sonora em aves

É importante notar que, no mundo real, estudar o efeito da poluição sonora é difícil. Isso porque é preciso distinguir qual fator estressante é mais prejudicial às aves dentre toda a agitação da vida urbana.

Além disso, as reações das aves ao ruído dependem do tipo de barulho produzido, incluindo frequência, volume, consistência e duração.

Algumas espécies de pássaros reagem mais negativamente ao ruído do que outras. Por exemplo, pássaros que formam colônias são altamente suscetíveis ao ruído: quando um pássaro reage, seus companheiros o imitam.

A poluição sonora induz mudanças no sucesso reprodutivo

O ruído pode afetar a produção de ovos, incubação, criação e a resposta de voo diante de predadores do ninho. Além disso, também influencia a capacidade de encontrar ou atrair um parceiro e a eficácia dos pais em ouvir e responder aos apelos suplicantes de seus filhotes.

Todos esses fatores podem induzir perda reprodutiva e contribuir para o declínio da população.

A poluição sonora induz mudanças no sucesso reprodutivo

O ruído pode mascarar a comunicação entre as aves

Em todos os táxons de aves, as relações sociais são baseadas na comunicação sonora. Normalmente, a vocalização domina grande parte do contato de primeira ordem.

O ruído de fundo pode ocultar ou interferir na comunicação ou na detecção de ameaças, produzindo o que os cientistas chamam de “mascaramento”.

A importância do mascaramento é que ele dificulta a comunicação vocal dos pássaros para atrair seus companheiros, defender territórios e fugir de ameaças, já que o ruído também pode mascarar pedidos de socorro e alertas.

Além disso, é importante observar que as chamadas de contato ajudam a manter a coesão do grupo. Por esse motivo, o mascaramento pode resultar potencialmente na perda de indivíduos ou na quebra da coesão do grupo.

Para piorar ainda mais esse problema, é comum que o “coro do amanhecer” das aves coincida com o horário de pico do tráfego mais intenso. Por todas essas razões, o ruído pode determinar a qualidade do habitat e o sucesso reprodutivo.

A poluição sonora produz mudanças nos componentes das canções e nas redundâncias

De acordo com estudos de campo, tentilhões machos que habitam áreas naturalmente barulhentas cantam alguns componentes da canção por períodos mais longos do que seus equivalentes em áreas mais calmas. Além disso, os tentilhões produziram trinados rápidos em episódios mais curtos.

Os pesquisadores sugerem que essas mudanças podem ser uma compensação entre atrair as fêmeas com os trinados e, ao mesmo tempo, reduzir a fadiga neuromuscular.

O ruído intenso pode induzir mudanças no horário de canto

Há relatos de que, na cidade, rouxinóis conseguem ajustar o tempo máximo de seu canto para evitar interferências acústicas.

Em outra pesquisa, foi documentado que os pequenos papa-moscas (Empidonax minimus) e as juruviaras (Vireo olivaceus) mudaram sua programação de contos para evitar a sobreposição de suas canções.

A poluição sonora parece ser um fator de influência nas mudanças do canto diurno para o noturno entre os piscos-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) em algumas cidades. É interessante saber que também foram relatadas mudanças no tempo de canto em rãs, associadas a ruídos intensos.

Aves sob estresse devido à poluição sonora podem viver menos

De acordo com um relatório recente, a exposição à poluição sonora em mandarins (Taeniopygia guttata) induz estresse que pode estar relacionado ao rápido envelhecimento e a uma menor expectativa de vida.

É preciso notar que os cientistas usam o tamanho de partes do DNA chamadas telômeros como um indicador de longevidade. Essa porção do DNA forma a extremidade dos cromossomos, semelhante ao plástico que protege a extremidade de um fio.

Quando os telômeros encurtam e eventualmente desaparecem, as células começam a envelhecer.

Nesse relatório, os autores encontraram um encurtamento substancial nos telômeros de aves jovens submetidas a 100 dias de exposição acústica. Ainda não se sabe se essas aves viverão realmente menos tempo do que o grupo que não foi submetido ao ruído.

Aves sob estresse podem viver menos

Além do ouvido

A poluição sonora afeta as aves de várias maneiras, incluindo danos físicos aos ouvidos. Também induz mudanças em suas respostas ao estresse, de fuga e de evitação.

Além disso, foram observadas mudanças em sua comunicação vocal, no comportamento de busca por comida e no sucesso reprodutivo. Em geral, todas essas variações podem resultar em reduções nas populações das aves expostas.


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